a arquibancada do San Siro, na última quarta-feira, enquanto o Milan era superado por 3 a 2 pelo Barcelona, pela Liga dos Campeões da Uefa, um torcedor rossonero segurava uma faixa com o número 33 e a palavra: segurança. A simples homenagem reflete bem o que Thiago Silva representa para sua equipe. Na Seleção Brasileira, o panorama não é diferente. Se o cargo que o ocupa não permite que Mano Menezes repita esse tipo de gesto, ele deixa claro com convocações que o “Monstro” é seu homem de confiança.
Das 21 partidas em que dirigiu a equipe nacional, o treinador escalou Thiago Silva em 17, sendo que outras duas contaram apenas com jogadores que atuam no Brasil. No último amistoso, inclusive, Mano deu o tom do prestígio do defensor ao "presenteá-lo” com o posto capitão na vitória por 2 a 0 sobre o Egito. Faixa sob medida para o jogador que, imponente pelo futebol e pela postura, se tornou naturalmente um dos líderes do grupo após a última Copa do Mundo.
A nova função empolgou Thiago Silva, que garantiu se sentir totalmente à vontade com a braçadeira.
– Caiu bem. Fiquei muito contente. Não gosto da brincadeira dos jogadores, que dizem que agora vou ficar dando dura em todo mundo. Mas fiquei muito feliz. Os jogadores todos me passaram confiança. O Lucas, o David (Luiz), o Diego (Alves), que jogou contra o Egito, me deixou tranquilo. A segurança no goleiro é importante.
Não tem como não pensar em levantar a taça com o Maracanã lotado, algo que não aconteceu em 1950. Todos nós queremos muito isso"
Thiago Silva
Carioca, o defensor não teve a oportunidade de celebrar um título no Maracanã com a camisa do Fluminense. A possibilidade de alcançar tal feito e ainda levantar o troféu em uma inédita conquista em casa em 2014 já faz parte dos sonhos do Monstro.
– É inevitável não pensar nisso quando se coloca a braçadeira. Realmente pensei, mas primeiramente preciso ter tranquilidade e lidar com isso. Tem o Ronaldinho, que respeito muito. Se quando ele não jogar eu for o capitão, serei com o maior prazer. Não tem como não pensar em levantar a taça com o Maracanã lotado, algo que não aconteceu em 1950. Todos nós queremos muito isso.
Liderança natural
Aos 27 anos, Thiago Silva ocupou o posto que nos últimos jogos foi de Ronaldinho Gaúcho e por muito anos coube a Lúcio. Apesar de mais jovem do que os companheiros, ele exerce o papel de líder espontaneamente, principalmente por ser um dos remanescentes do grupo que foi a última Copa do Mundo.
– Acho que sou visto como um dos líderes pelo fato de ir ao Mundial, ter a confiança do treinador e comissão técnica, ter sido capitão no último jogo. Isso mostra que todos têm confiança em mim. Procuro corresponder em campo jogando e ajudando da melhor maneira possível. Quando se joga muito, o cansaço também é grande. Por isso, o Mano me deixou fora contra o Gabão, mas depois voltei e pude render um pouco mais.
Thiago Silva revelou um incômodo com a forma como o futebol brasileiro tem sido visto na Europa.
– As pessoas estão vendo o Brasil como quarta, quinta força do futebol mundial. Falam que o Brasil não é o mesmo de outros anos. Isso nos deixa triste, mas por outro lado motiva muito para conquistarmos a Copa das Confederações e o Mundial.
Era Dunga
Homem de confiança de Mano, Thiago não era visto da mesma forma por Dunga. O jogador do Milan, inclusive, acredita que não iria ao Mundial da África do Sul se Naldo, seu concorrente, não estivesse lesionado na ocasião. Do comandante anterior, no entanto, o zagueiro guarda boas recordações.
– Participei muito pouco com o Dunga. Não fui a Copa América, Copa das Confederações... Mas o grupo era muito unido com ele. O Dunga podia deixar escapar algumas palavras e fazia alguma bagunça com o pessoal da imprensa, mas também gostavam de deitar muito em cima dele. Internamente, não tenho nada para falar dele. Era muito tranquilo, brincalhão. Do vestiário para fora, ele mudava muito. Acredito que era uma autodefesa contra algum deboche que pudessem ter com ele.
Na “era Dunga”, Thiago viveu momento mais delicado durante os Jogos Olímpicos de Pequim. Apesar de chamado com um dos três acima dos 23 anos, ele se lesionou, pouco atuou e foi deixado em segundo plano pelo treinador após se recuperar. Com a proximidade de mais uma Olimpíada, ele deixou claro o desejo de repetir a dose, novamente ser convocado e, enfim, conquistar em Londres o único título que falta ao país do futebol.
– Em todos os jogos que fui convocado para Seleção, dei minha vida, me entreguei. Infelizmente, na Olimpíada não tive muita oportunidade de jogar, só contra a China. Achei que fosse enfrentar a Argentina (quando o Brasil foi eliminado com derrota por 3 a 0) e não joguei. Queria muito. Agora, temos outra chance. Estou aqui do lado, a vontade de participar e vencer é grande. Só falta esse título para o país e quero entrar para história. Nosso time nessa idade é muito forte e competitivo.
Com a camisa do Milan, Thiago Silva volta a campo neste domingo para enfrentar o Chievo, às 17h45m (de Brasília), no San Siro, em Milão, pelo Campeonato Italiano.
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